sábado, 21 de abril de 2012

Ensino nas horas dificeis

Em 2007, quando entraria no Ensino Fundamental, o pequeno índio wapixana Frank Silva ficou doente. Teve um câncer diagnosticado e precisou sair de Roraima, onde morava, para buscar ajuda especializada. Desde o ano passado, está internado em São Paulo. Mas não foi esse imprevisto - nem a forte medicação que vem tomando - que o deixou fora da escola. Matriculado desde o começo do tratamento em uma classe dentro do Hospital do Câncer, ele não só foi alfabetizado como já está na 2ª série.

Frank é uma das 65.956 crianças que estudaram em salas adaptadas ou no próprio leito em 2007, segundo o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Apesar do público numeroso, a modalidade ainda não é uma realidade em todo o território nacional. O próprio Ministério da Educação (MEC) reconhece que há carências graves pelo país - são 850 hospitais oferecendo o atendimento, em um universo de quase 8 mil unidades.
Além disso, especialistas alegam que as experiências em curso nem sempre ocorrem num contexto ideal. "Há o déficit de profissionais para atuar do 6º ao 9º ano. E, em muitos lugares, o voluntário ainda atua no lugar do educador", diz Eneida Simões da Fonseca, professora do Departamento de Estudos em Educação Inclusiva e Continuada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Na prática, é a equipe médica que deve acionar as secretarias de Educação assim que um estudante da rede pública dá entrada com alguma doença severa (para os oriundos da particular, é a própria escola que deve providenciar o serviço). Em alguns estados e municípios, já existe inclusive um quadro de docentes previamente concursados e preparados para a função, e é junto a esses órgãos que interessados no emprego devem procurar orientações. "Cabe aos governos locais oferecer a mão-de-obra e as capacitações necessárias. Tudo para que o aluno se atrase o mínimo possível no ritmo de sua turma original", diz Martinha Dutra dos Santos, coordenadora-geral da Secretaria de Educação Especial do MEC.
Apesar de ser chamada tecnicamente de classe, a aula é individual, nos leitos ou em salas cedidas pela unidade de Saúde. Diferentemente de uma escola regular (onde é possível fazer atividades de longa duração), cada tarefa precisa ter início, meio e fim no mesmo dia. "É um ritmo estranho. Eu posso planejar tudo hoje e, amanhã, o estudante recebe alta. Daí eu tenho que fazer coisas novas para outra criança que acabou de chegar", conta a professora Geane Yada, do Hospital Darcy Vargas, em São Paulo. A carga horária também muda. O educador pode iniciar uma conversa e, em instantes, ter de parar devido a uma indisposição. O indicado é que o aluno consiga ter o mesmo conteúdo e a mesma carga horária da escola. Mas, com o sobe-e-desce do tratamento, isso nem sempre é possível.

Foto: Patrícia Stavis

domingo, 15 de abril de 2012

Solidariedade

"O que dizer quando você encontra uma menina no hospital há algum tempo atrás e você a reencontra no andar mais alto do hospital lutando contra o câncer? Mesmo ela usando uma touca especialmente feita pela avó, ela não esconde a tristeza de ter perdido os cabelos. Alegria é quando percebemos que mesmo por alguns momentos, vemos o sorriso naquele rosto tão abatido”.

A Carta da criança hospitalizada


 

A Carta da Criança Hospitalizada é um documento que sintetiza os direitos das crianças hospitalizadas. Esta Carta foi adaptada em 1988 por várias associações europeias, no entanto, foi o Instituto de Apoio à Criança que representou Portugal.
Esta Carta consagra 10 direitos indispensáveis:
  1. A admissão de uma criança no hospital só deve ter lugar quando os cuidados necessários à sua doença não possam ser prestados em casa, em consulta externa ou em hospital de dia.
  2. Uma criança hospitalizada tem direito a ter os pais ou seus substitutos, junto dela, dia e noite, qualquer que seja a sua idade ou o seu estado.
  3. Os pais devem ser encorajados a ficar junto do seu filho, devendo ser-lhes facultadas facilidades materiais sem que isso implique qualquer encargo financeiro ou perda de salário. Os pais devem ser informados sobre as regras e as rotinas próprias do serviço para que participem activamente na assistência à criança.
  4. As crianças e os pais tem direito a receber informação sobre a doença e os respectivos tratamentos, adequada à idade e à sua compreensão, a fim de poderem participar nas decisões que lhes dizem respeito.
  5. Deve evitar-se todo o exame ou tratamento que não seja indispensável. As agressões físicas ou emocionais e a dor devem ser reduzidas ao mínimo.
  6. As crianças não devem ser admitidas em serviços de adultos. Devem ficar reunidas em grupos etários para beneficiarem de jogos, recreios e actividades educativas adaptadas à idade, com toda a segurança. As pessoas que as visitam devem ser aceites sem limite de idade.
  7. O hospital deve oferecer às crianças um ambiente que corresponda às suas necessidades físicas, afectivas e educativas, quer no aspecto do equipamento, quer no do pessoal e da segurança.
  8. A equipa de saúde deve ter a formação adequada para responder às necessidades psicológicas e emocionais das crianças e da família.
  9. A equipa de saúde deve estar organizada de modo a assegurar a continuidade dos cuidados que são prestados a cada criança.
  10. A intimidade de cada criança deve ser respeitada. A criança deve ser tratada com cuidado e compreensão em todas as circunstâncias.

A Criança Hospitalizada

Como é que a Criança Hospitalizada deve ser tratada?
Todos os utentes têm direito a ser tratados com os meios adequados, com correcção técnica, privacidade e respeito.
Além do mais, a doença e o internamento constituem para a criança uma experiência já de si muito exigente, pelo que toda a atenção, dedicação e cuidado, inclusive na aplicação dos próprios tratamentos, deverão ser respeitados.
A Criança Hospitalizada tem direito a brincar?
A Criança Hospitalizada tem direito a brincar, devendo dispor de jogos e brinquedos adaptados à sua idade.
Os pais das crianças hospitalizadas, conhecendo os gostos particulares dos seus filhos, principalmente no que diz respeito aos seus brinquedos preferidos, bonecos ou até mesmo chupetas, devem certificar-se que estes objectos acompanham os filhos durante o internamento.
A Criança Hospitalizada tem continuidade na Escola?
A criança hospitalizada tem direito a acompanhamento escolar durante o período de internamento.
A Escola Primária do Hospital Pediátrico de Coimbra pertence ao agrupamento Martim de Freitas que funciona numa sala de aulas adequada no próprio hospital, onde leccionam duas professoras. A partir do 2º Ciclo, o HPC conta com a parceria da Escola C+S Martim de Freitas e com o apoio de professores que vem aos serviços de internamento para dar continuidade ao ensino escolar.
Até que idade uma Criança tem direito às consultas, às urgências e ao internamento em pediatria?
A Idade pediátrica adoptada em Portugal para a assistência em estabelecimentos hospitalares é de 15 anos (14 anos e 364 dias) salvo os casos em que seja vontade própria do indivíduo, com idade entre os 12 e os 15 anos (14 anos e 364 dias), ser atendido em consulta, serviço de urgência ou serviço de internamento destinado a adultos.
No que respeita ao Hospital Pediátrico de Coimbra, os serviços de Atendimento na Urgência e Consulta destinam-se a todas as crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 12 anos (e 364 dias) e no caso do Atendimento dos doentes seguidos no Hospital é até aos 12 anos inclusive, havendo a excepção de crianças com doenças crónicas que são seguidas até ao fim da adolescência (18 anos).

Apoio Familiar à Criança Hospitalizada

A Criança Hospitalizada tem direito acompanhamento familiar?
Toda a criança hospitalizada com idade não superior a 14 anos internada em hospital ou unidade de saúde tem direito ao acompanhamento permanente da mãe e/ou do pai (ou, na falta ou impedimento dos pais, por familiares ou pessoa que normalmente os substitua).
A idade pode ser ultrapassada no caso de crianças com deficiência e/ou com doenças crónicas.
O direito ao acompanhamento familiar exerce-se em regra durante o dia, das 8h às 21.30h, nos casos em que haja doença grave com risco de vida, os pais poderão ser autorizados a permanecer junto dos seus filhos no período nocturno.
Qual a importância do acompanhamento familiar para a Criança Hospitalizada?
A presença dos pais das Crianças internadas é indispensável e insubstituível, sendo um incentivo marcante e importantíssimo para a sua recuperação.
Para promover a presença dos pais junto das crianças internadas, principalmente quando o seu estado de saúde reclamar um acompanhamento frequente e constante, há que lhes garantir condições mínimas de conforto, protecção e assistência.
Quais os direitos dos pais das Crianças Hospitalizadas?
Os pais das crianças internadas que acompanhem os filhos (ou, na sua falta ou impedimento, os familiares ou pessoas que normalmente os substituam) têm direito a receber gratuitamente as refeições das instituições onde decorre o internamento.

Pedagogia Hospitalar

O desafio da Pedagogia Hospitalar

Para suprir a carência da educação de jovens e crianças hospitalizadas ou em tratamento domiciliar, é que desde 1994 a legislação brasileira garante o atendimento deste público especial. A Pedagogia Hospitalar foi regulamentada pelo MEC em 2002, mas ainda são muitos os obstáculos a serem transpostos pelo profissional deste ramo. Sair da escola e entrar no universo hospitalar é algo novo para educadores, pois exige deles conhecimentos e habilidades. Auxiliar no ensino de crianças e jovens enfermos é muito mais do que explicar conteúdos, tirar dúvidas e avaliar estudantes. O professor no ambiente hospitalar também serve como ponte entre profissionais da saúde, família e crianças, minimizando os traumas da internação, por meio de um ensino emancipador, como nos traz a Supervisora Educacional no Município de São Gonçalo – RJ, Rejane Fontes.
Embora se tenha registros do trabalho educacional realizado em hospitais desde 1931 no Brasil, iniciado na Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo, cujos arquivos datam do período de 01/08/1931 a 10/12/1932 (MAZZOTTA, 2005), sua definição na política educacional brasileira só chegou em 1994, com a Política Nacional de Educação Especial. Segundo ela, “Classe Hospitalar é um ambiente hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar” (BRASIL, 1994, p. 20). Essa definição, ainda muito próxima do conceito de escolarização, indicava apenas uma transposição das atividades realizadas no espaço escolar para o ambiente hospitalar.
Com o intuito de ampliar esta definição, em 2002, o Ministério da Educação (MEC) publicou o documento basilar para esta modalidade de ensino com o título Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégias e orientações (BRASIL, 2002). Neste documento, entende-se que o aluno da classe hospitalar é o educando cuja condição clínica interfere em sua permanência ou freqüência escolar de forma temporária ou permanente, necessitando de um acompanhamento educacional durante seu processo de hospitalização.
Contudo, este atendimento pedagógico deverá ser orientado pelo processo de desenvolvimento do educando e construção de conhecimento, exercido de forma integrada aos serviços de saúde. Para tanto, a oferta curricular ou didático-pedagógica deve ser flexibilizada, contribuindo para a promoção de saúde e ao melhor retorno da criança e/ou adolescente aos estudos interrompidos.
Observa-se, assim, que a Pedagogia Hospitalar é um trabalho especializado bastante amplo que não se reduz à escolarização da criança hospitalizada. Ela busca levar a criança a compreender seu cotidiano hospitalar, de forma que esse conhecimento lhe traga um certo conforto emocional. Isso lhe pode ajudar a interagir com o meio de uma forma mais participativa.
Mais do que o profissional, o maior parceiro da criança é a outra criança que está ali dentro, que almoça, acorda e passa pelo sofrimento junto com ela. É papel do professor incentivar essa parceria, essa solidariedade, buscar fazer com que a criança enxergue o outro como alguém semelhante a ela. Isso é um processo educativo que não está atrelado diretamente ao conteúdo curricular. Propõe-se uma atividade comum para que duas crianças escrevam uma historinha. É dessa forma que se vai introduzindo sutilmente uma atividade pedagógica sistematizada num contexto de brincadeira. Se houver um livro didático com o corpo humano, o professor pode mostrar para a criança diabética o que é a insulina e para que serve o pâncreas. Esse conhecimento curricular surge “espontaneamente” e tem uma significação autêntica para a vida da criança. Assim, podemos entender Pedagogia Hospitalar como uma proposta diferenciada da Pedagogia Tradicional, uma vez que se dá em âmbito hospitalar e que busca construir conhecimentos sobre esse novo contexto de aprendizagem que possam contribuir para o bem estar da criança enferma.
Se o período de internação da criança no hospital for quinzenal, o que é bastante comum nos hospitais que possuem enfermaria pediátrica, dificilmente o professor irá desenvolver um trabalho escolarizado do tipo proposto pela Classe Hospitalar em seu sentido estrito de escolarização. Não há tempo para o currículo oficial, enquanto a criança tenta se familiarizar com aquele universo, que é completamente estranho e, muitas vezes, assustador. A sugestão da Pedagogia Hospitalar é a de que o professor trabalhe atividades lúdicas de reconhecimento do espaço, de sua doença e de si própria, durante os primeiros quinze dias de internação da criança, no sentido de tranqüilizá-la acerca do ambiente hospitalar. E caso a criança permaneça hospitalizada por mais tempo, o desejo por atividades mais próximas das do tipo escolar irá aflorar quase espontaneamente no universo hospitalar. Pois, o desejo de aprender engendra o desejo de viver junto à criança doente, que vê na escola e na figura do professor, a referência à infância que foi deixada do lado de fora do hospital.
O brincar deve fazer parte da vida de toda criança e a educação é necessária na vida de cada ser humano, por isso, é fundamental a continuidade do desenvolvimento da criança no ambiente hospitalar, pois mesmo hospitalizada continua sendo criança e precisa ter todas as suas necessidades básicas fundamentais atendidas (FONTES, 2005; FONTES & VASCONCELLOS, 2007; VASCONCELLOS & SARMENTO, 2007).
Nem mesmo os pais, no início, têm clareza do que seja a Pedagogia Hospitalar. Com o desenrolar das atividades, eles passam a vê-la de uma forma terapêutica, não de forma pedagógica. Como não há psicólogo no setor pediátrico de muitos hospitais, acabamos assumindo erroneamente essa função, recebendo os pais que nos procuram para dialogar, desabafar e obter conhecimentos. Os médicos, em geral, dão o diagnóstico, usando palavras de difícil compreensão. Com isso, os pais nos procuram para compreender o diagnóstico apresentado.
E essa pode ser também uma via de entrada do professor no hospital. A atuação se dá, então, não somente junto à criança, mas também junto aos pais. O professor faz a ponte entre o discurso oficial, que é o do médico e o discurso do senso comum, que é o dos pais ou responsáveis pela criança. Quando eles se tranqüilizam em relação à doença do filho, passam isso para a criança, o que ajuda no tratamento da doença. Atuando dessa forma, o professor não está fugindo da sua atuação como professor. Pelo contrário, está ampliando a rede de relações dentro do hospital. Mas, apesar disso, ainda existe uma relação complexa entre os professores e os profissionais da saúde.
Alguns profissionais da área da saúde não valorizam a Pedagogia Hospitalar. É verdade que nos últimos anos houve um progresso incontestável, facilitado pelos profissionais da área de Ciências Humanas, como os da Assistência Social e os da Psicologia. Enfermeiros, médicos e nutricionistas, em geral, vêem professores como recreadores, aqueles que promovem brincadeiras com a criança para “passar” o tempo ou para fazer com que ela não dê trabalho. Durante o desenvolvimento de um acompanhamento pedagógico numa enfermaria pediátrica é comum alguns destes profissionais interromperem a atividade, pegarem a criança pelo braço e retirá-la do espaço para fazer exames ou tomar medicação. Muitas vezes, essas ações poderiam esperar por não terem uma hora marcada. A criança sai chorando. Hoje isso acontece com menos freqüência e os profissionais da saúde já perguntam: “Professora, posso tirar fulano?”. Conversando, convencemos a criança, dizendo: “Eu espero você voltar, pode ir lá tranqüilo”. Assim, a criança sai sem chorar.
Como professor, é fundamental que não deixemos que nossa identidade se perca no espaço hospitalar. O professor precisa ser um pesquisador da sua prática, principalmente na Pedagogia Hospitalar, onde há uma pequena produção literária sobre o assunto. Precisa refletir, construir, escrever, para conceituar essa prática. Ele é um professor diferente daquele da sala de aula, porque não está na escola, não está trabalhando com crianças “saudáveis”, que podem fazer tudo a qualquer tempo. Enfim, é isto, do ponto de vista educacional, social e humano, o que denominamos, pesquisamos e acreditamos ser o papel da Pedagogia Hospitalar.
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília, DF. (Mensagem especial; v. 1) 1994.
______. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília: MEC; SEESP, 2002.
FONTES, R. S. A Escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da Educação no hospital. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, nº. 29, p. 119-138, maio/ago. 2005. Disponível em: http://www.anped.org.br. Acesso em: 22 jan. 2007.
______.; VASCONCELLOS, V.M.R. O papel da educação no hospital: uma reflexão com base nos estudos de Wallon e Vigotski. Cadernos CEDES – Educação da criança hospitalizada: as várias faces da pedagogia no contexto hospitalar, Campinas, v. 27, nº. 73, p. 279-303, set./dez. 2007.
MAZZOTTA, M.J.S. Educação Especial no Brasil: história e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2005.
VASCONCELLOS, V.M.R.; SARMENTO, M.J. Infância (In)visível. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2007.
*Doutora em Educação pela UERJ; Especialista em Regulação de Aviação Civil da ANAC e Supervisora Educacional no Município de São Gonçalo (RJ). E-mail: rejane_fontes@yahoo.com.br.

Educação

A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.
Aristóteles

A afetividade na relação pedagógica

A afetividade na relação pedagógica *
Especialista em mudanças na educação presencial e a distância
 
É muito difícil equilibrar controle e liberdade, autoritarismo e afetividade. Em grupos grandes a tendência é a olhar mais a norma do que as pessoas, a regra do que as circunstâncias. Os limites são importantes, mas a relação pedagógica afetiva é fundamental. Aprendemos mais e melhor quando o fazemos num clima de confiança, de incentivo; quando estabelecemos relações cordiais com os alunos, quando nos mostramos pessoas abertas, afetivas, carinhosas, tolerantes e flexíveis, dentro das regras organizacionais.
Pela educação podemos ajudar a desenvolver o potencial que cada pessoa tem, estimulando suas possibilidades e diminuindo suas limitações. Um caminho importante é mostrar atitudes de compreensão e estar atentos para superar a intolerância, a rigidez, o pensamento único, a desvalorização dos menos inteligentes, dos fracos, dos problemáticos ou “perdedores”.
Praticar a pedagogia da inclusão de todos e de todas as formas. A inclusão não se faz somente com os deficientes, ou com os marginalizados. Dentro da escola muitos alunos se sentem excluídos pelos professores e colegas. São excluídos pelos professores, quando nunca falam deles, quando não lhes dão valor, quando são ignorados sistematicamente. São excluídos quando falam com e dos mesmos e descuidam os demais. São excluídos quando exigem de pessoas com dificuldades intelectuais, emocionais e de relacionamento, os mesmos resultados.
Há uma série de obstáculos para superar: a formação intelectual que valoriza mais o conteúdo, o intelecto, a razão. Professores e gestores frequentemente possuem uma formação emocional, afetiva deficiente. Por isso, tendem a enxergar mais os erros que os acertos. Salários baixos e falta de reconhecimento também dificultam o equilíbrio emocional, a auto-valorização, a boa auto-estima.
Por isso, ao mesmo tempo que se implantam políticas efetivas de valorização profissional, é importante organizar atividades, cursos e programas com gestores e professores para que todos desenvolvam a autoconfiança, a auto-estima. Gestores acolhedores facilitam muito o clima emocional da escola. Profissionais valorizados se sentem melhor e contribuem mais.
Para que os alunos tenham certeza do que comunicamos, é extremamente importante que haja sintonia entre a comunicação verbal, a falada e a não verbal, a comunicação gestual, a que passa pela inflexão sonora, pelo olhar, pelos gestos corporais de aproximação ou afastamento. As pessoas que tiveram uma educação emocional mais rígida, menos afetiva, costumam ter dificuldades também em expressar suas reais intenções, em comunicar-se com clareza. Falam de forma ambígua, utilizam recursos retóricos como a ironia, o duplo sentido, o que deixa confusos os ouvintes, sem conseguir decifrar o alcance total das intenções do comunicador.
Os educadores que gerenciam bem suas emoções transmitem equilíbrio, tranqüilidade e objetividade. Falam com tom calmo, e quando discordam, o fazem sem agredir nem humilhar. Os alunos captam claramente as mensagens e mesmo quando não concordam, manterão o vínculo afetivo, o relacionamento e continuarão abertos para novas mensagens.
As pessoas equilibradas, abertas, nos encantam. Antes de prestar atenção ao significado das palavras, prestamos atenção aos sinais profundos que nos enviam, de que são pessoas compreensivas, confiantes e abertas a novas experiências e idéias.